Ming Liu
Não é novidade que hoje, no mundo e no Brasil, a demanda por produtos orgânicos está em alta. Este crescimento reflete maior conscientização do consumidor na busca por produtos cada vez mais saudáveis e menos industrializados, que no processo de produção minimize o impacto ambiental, que garanta ser seguro, bom para a saúde e que possa ser adotado em programas de prevenção para a saúde. Queremos o futuro num planeta vivo, orgânico e saudável para se viver.
A história dos orgânicos é recente: começa no início do século XX, mas foi apenas a partir de 2001, que os grandes mercados – Estados Unidos e Europa – se preocuparam em regulamentar, criar mecanismos de controle para garantia da qualidade e credibilidade junto ao consumidor final. O Brasil também iniciou este processo em 2003, publicando a Lei 10.831 sob as asas da agroecologia e da agricultura familiar.
O Brasil por sua extensão geográfica, diversidade da natureza de produtores e variedade do clima e biomas, acabou optando por uma legislação mais inclusiva, diferentemente dos outros países, em que o principal canal de produção acabou se baseando apenas na estrutura tradicional da agricultura e no processamento. A regulamentação foi em 2011, com a criação do selo nacional obrigatório que oferece a credibilidade que o consumidor precisa.
A regulamentação criou condições para que o mercado global de orgânicos represente perto de US$ 80 bilhões de dólares em faturamento. Um valor pequeno se comparado com os números das grandes corporações do agronegócio e ainda posiciona os orgânicos como um mercado de nicho, mas com as referências de qualidade no processo de compra e os hábitos que os consumidores vêm adotando na busca de produtos com melhor qualidade e mais seguros, os orgânicos passam a ser um mercado mainstream. No varejo, as grandes redes e as mais especializadas de pequeno porte estão em demanda crescente, em especial por produtos frescos, produtos processados e de maior valor agregado.
O Brasil tem um mercado na ordem de R$ 2,5 bilhões, incluindo as exportações, com expectativa de crescimento de 30-35% em 2016, importância relativamente tímida se comparada com o valor global do setor e mais irrelevante em relação ao valor e números do agronegócio no país: perto de 23% do PIB Nacional, responsável pelo emprego de 39% da população do país, mais de 39% das exportações e com apenas 30% das terras utilizadas.
Estes números mostram o potencial de crescimento. É importante saber que a estruturação será determinada pela demanda, produção e disponibilidade dos produtos. Segundo dados do Ministério da Agricultura, em novembro de 2015 estavam registrados 11.478 produtores orgânicos, sendo a região Sul o maior adensamento – cerca de 36% do total; seguidos pelas regiões nordeste (32%) e sudeste (21%). No ranking, em primeiro lugar está o Rio Grande do Sul com 1.598 produtores orgânicos, seguido pelo Paraná e São Paulo, com 1.561 e 1.290 produtores, respectivamente.
No varejo, os produtos orgânicos estão em praticamente todas as grandes redes de supermercados, além do aumento contínuo do número de feiras orgânicas, que já são mais de 600 acontecendo semanalmente em todas as regiões do Brasil.
O desafio do setor é estar estruturado para ter produtos, em todos os segmentos de alimentos e bebidas, para atender esta demanda. Podemos prever que deve acontecer no Brasil, o mesmo no desenvolvimento do setor nos Estados Unidos e na Europa, onde as grandes empresas acabaram se adaptando para ter linhas orgânicas de produtos.
Em termos de empreendedorismo, atualmente temos poucas empresas com faturamento na ordem de dezenas de milhões de dólares e nenhuma ainda na casa das centenas. Enquanto que nos Estados Unidos, há empresas com faturamento na casa do bilhão de dólares.
Acredito que o Brasil está no início deste processo, com a estruturação de uma ordem de trabalho estabelecida em cadeias: primária, com a pulverização de pequenos e micro produtores, agroecológicos e da agricultura familiar; e na secundária, com empreendedores pequenos e inovadores até as grandes processadoras e indústrias que enxergam nos orgânicos uma alternativa comercial viável; e na terciária com serviços que contribuam na mudança de comportamento do consumidor.
Para o futuro, podemos prever que a mudança de parâmetros dos consumidores, em que o preço nem sempre será decisivo, apesar do cenário econômico não muito positivo para os próximos anos. Esperamos que cada vez mais, a racionalidade e o bom senso sejam decisivos na busca de produtos mais éticos, seguros e saudáveis.
Assumindo uma posição assertiva, foi criado o Conselho Nacional da Produção Orgânica e Sustentável – ORGANIS, que construirá uma plataforma de negócios para unir integrantes de uma cadeia produtiva, ser a representante legítimo de produtores, processadores, empresas e empreendedores brasileiros da cadeia de produção orgânica e sustentável.
É um novo desafio para um país como o Brasil – orgânico por natureza e com a maior biodiversidade do planeta.
Ming Liu é diretor do ORGANIS e coordenador executivo do Organics Brasil – mingliu@organis.com.br
Vera Moreira Comunicação – Assessoria de Imprensa
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