*José Paulo Graciotti
Existem várias opções para a carreira do advogado no mercado jurídico, mas as principais são: a carreira pública (juízes, procuradores, promotores, etc.); a carreira corporativa (legal / general counsels em departamentos jurídicos) e em cada uma delas existe uma evolução natural e um ápice a ser buscado / atingido.
Vou me ater unicamente nesta discussão a evolução da carreira do profissional que escolhe a última opção, ou seja, em escritórios de advocacia corporativos onde o ápice da carreira é chegar à posição de sócio deste escritório.
Nesta opção, como toda a carreira, passa por uma fase de aprendizado, evolução técnica, posteriormente por uma evolução gerencial e finalmente por uma desaceleração natural.
Considero que a figura abaixo mostra claramente essas fases na evolução do profissional jurídico engajado na opção de escritórios de advocacia corporativos:
A primeira fase é a de estagiário, representada na figura pelo espaço existente à esquerda do início da curva verde.
A segunda e no meu ponto de vista a mais importante, á a fase de evolução profissional do advogado onde ele aprimora e aprofunda seus conhecimentos jurídicos e inicia o envolvimento no intricado processo de gestão de um escritório de advocacia. Esta fase costuma demorar algo em torno de 12 a 15 anos, lembrando que estamos falando da atualidade, pois no passado (nos escritórios mãos antigos e tradicionais) esta fase era muito mais demorada e pior ainda, sem definição clara de atributos a serem desenvolvidos e sem tempo definido. Nesta fase é que devem ser definidos os “KPI´s” para a equipe (vejam item anterior)!
O intervalo (12 a 15 anos) não é aleatório, mas um tempo necessária para o crescimento profissional jurídico e gerencial e deve coincidir com a maturidade psicológica a que todos estamos sujeitos, ou seja, os 40 !
Neste ponto começa um período crítico para a relação advogado-escritório onde, de um lado começam as avalições mais severas por parte dos sócios existentes nos quesitos de gestão e comprometimento e no lado do advogado as avalições mais críticas em relação ao modelo filosófico existente na instituição e sus aderência ao mesmo. Além disso, pode também existir a opção da carreira “Y” onde, o profissional se sente à vontade com os desafios técnico-jurídicos e gosta de desenvolvê-los e aprofundá-los, mas não se identifica e nem quer desenvolver atributos gerenciais necessários à posição de sócio. Caso essa decisão seja confortável para ambas as partes, ou seja, advogado e escritório, o profissional se tornará um “consultor”.
Uma vez vencidos o desafio de se tornar sócio, começa então uma nova fase de evolução com o aprofundamento ainda maior no conhecimento jurídico (lembremos que o sócio de uma determinada área do direito deve ser naquele ambiente o “oráculo” para todos os advogados de sua equipe e a pessoa à qual o cliente, em última instância, confia tecnicamente) e o aprendizado e aprimoramento dos atributos necessários a compor o órgão gestor da instituição.
Novamente o tempo necessário à essa evolução, expresso na figura não é aleatório, dano ao profissional mais uma década para esse aprimoramento e coincidindo com o auge da maturidade de um ser humano, ou seja, os 50!
A penúltima fase é a mais profícua e bela, pois no período (aproximado) entre 50 e 65 o profissional está completo em todos os sentidos e no auge de seu desenvolvimento intelectual. Observem que a curva não é horizontal e sim ligeiramente crescente, pois sempre há algo a ser aprendido!
A última fase representa a desaceleração onde, por vários motivos o profissional começa a balancear suas atividades profissionais com outras de caráter pessoal e decide naturalmente e paulatinamente se dedicar a essas outras atividades. Além de ser natural para o profissional, também é extremamente salutar à organização, permitindo sua evolução, oxigenação e criação de espaços aos mais novos.
Para que tudo isso aconteça são necessárias várias ações por parte dos gestores / líderes do escritório de modo a gerar a “cola” que atrai e aglutina os sócios (vejam em Sociedade de Advogados e o movimento Browniano) e a correta definição dos “KPI´s” para formar corretamente os advogados que serão pretendentes a um espaço na sociedade.
Na minha humilde opinião, não existe apenas um plano de carreira para advogados, mas sim um plano de carreira para profissionais engajados no desafio de trabalhar, operar e dirigir escritórios de advocacia de maneira completa, englobando as várias fases de sua participação.
O que eu quero dizer com isso é que o plano de carreira de advogados precisar estar interligado e aderente ao “plano de carreira de sócios”.
Sim. Deve existir um plano de carreira também para sócios e o conjunto de “KPI´s” definidos para estes devem conter todos aqueles existentes no plano dos advogados e mais aqueles que servirão de avaliadores de sócios e relativizadores na sociedade (vejam em A Metáfora da Mão Humana e a Gestão de Escritórios) de modo que a transição entre um plano e outro seja o mais natural e suave possível, sem soluções de continuidade.
Os exemplos mais evidentes são: autonomia jurídica, capacidade de captação / carteira de clientes, capacidade de gerenciamento (equipe, assuntos e clientes), promoção institucional e marketing e visão de negócio, todos importantíssimos para a avalição de sócios e que devem ser incentivados desde o começo da carreira do advogado. O que dever ir mudando é a importância que se dá a cada um desses “KPI´s” à medida que o profissional vai se tornando mais sênior na carreira.
Portanto, o plano geral da carreira profissional deve incluir os avaliadores que a filosofia empresarial criada pelos gestores / líderes e/ou fundadores do escritório definirem como os valores a que está sociedade se baseia.
José Paulo Graciotti, é consultor e sócio da GRACIOTTI Assessoria Empresarial, engenheiro formado pela Escola Politécnica com especialização Financeira e especialização em Gestão do Conhecimento pela FGV. Membro da ILTA– International Legal Technology Association e da ALA – Association of Legal Administrators. Há mais de 27 anos implanta e gerencia escritórios de advocacia – www.graciotti.com.br
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