Coração – Como retribuir essa amizade
As doenças cardiovasculares são responsáveis por 29,4% de todas as mortes registradas no país em um ano. A alta frequência do problema coloca o Brasil entre os 10 países com maior índice de mortes por doenças cardiovasculares. O relatório “Estatísticas da Saúde Mundial 2012“, lançado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), de 2012, apurou dados de 194 países. Uma das conclusões foi o aumento do número de pessoas com pressão alta, diabetes e obesidade em todo o mundo.
O cirurgião cardiovascular do INCOR, Roberto Rocha e Silva, acaba de lançar o livro “Querido Coração”, em linguagem simples e clara, com dicas importantes de como cuidar do coração e ter qualidade de vida.
Falta informação sobre a prevenção de doenças cardiovasculares ou falta empenho da pessoa no cuidado da qualidade de vida?
Pergunta complicada, várias respostas. (1) As informações existem, mas primeiro o profissional tem que disponibilizar tempo para obtê-las. (2) O profissional precisa de tempo para transmitir este conhecimento e esclarecer as dúvidas dos pacientes. Isto tudo envolve custo e tempo que nem sempre está disponível no relacionamento entre o médico e pessoa assistida. (3) A pessoa assistida tem que valorizar estas informações e se conscientizar que a opção pela saúde envolve esforço permanente.
O que mudou no diagnóstico e na indicação de tratamento com o aumento da expectativa de vida?
As doenças cardiovasculares aparecem após anos de descuido com eventuais fatores de risco: pressão alta, diabetes, colesterol alterado durante anos, promovem o aparecimento progressivo de obstruções nas artérias. Após muitos anos, uma destas obstruções rompe e leva à manifestação aguda do infarto.
O diagnóstico mais importante é justamente o dos fatores de risco: Para isso, basta o paciente comparecer ao médico, se possível, ainda na adolescência e manter seguimento de acordo com seu médico. Estas doenças são facilmente diagnosticadas e os novos tratamentos medicamentosos, quando necessários, são extremamente eficientes. Esta atuação evita ou retarda muito o aparecimento das obstruções, aumentando a longevidade e a qualidade de vida das pessoas.
Se a pessoa foi descuidada, o diagnóstico das obstruções já instaladas é realizado com equipamentos cada vez mais confiáveis e permitem o começo do tratamento clínico que hoje, de novo, é extremamente eficiente em evitar o progresso destas obstruções e sua eventual ruptura. Com isto, diminui a chance de um infarto, prolongando-se a longevidade com qualidade do paciente.
Seu livro tem uma linguagem muito simples. Qual o principal objetivo e para qual público é dirigido?
Eu escrevi este livro pensando nos pacientes e seus familiares (pais e filhos). Ele é uma continuação da consulta. Completa os esclarecimentos e recomendações dadas no limitado espaço de uma consulta. E claro, procura sanar aquelas dúvidas que sempre aparecem 5 minutos após a saída do paciente do consultório.
O cigarro ainda é o maior vilão das doenças cardíacas?
É um fato conhecido que é uma quadrilha composta de sete bandidos: cigarro, obesidade, sedentarismo, colesterol, diabetes, pressão alta e fatores familiares. O que varia, para cada um de nós, é número de comparsas e quem se torna o chefe da quadrilha. Olhe bem para os três primeiros elementos: eles estão super-relacionados com a vontade (ou falta de vontade) da pessoa. Os outros quatro são mais independentes desta vontade. A intensidade do fator de risco é que vai determinar a chefia da quadrilha para cada pessoa. É evidente que se alguém fuma dois maços por dia por 20 anos, será uma surpresa se ela não apresentar um infarto: nesse caso, o chefe da quadrilha é reconhecido imediatamente.
O relatório da OMS constatou que aumentou drasticamente o colesterol, diabetes e pressão arterial da população. Como diminuir esses índices?
Estes três fatores estão intimamente relacionados ao sobrepeso e ao sedentarismo. Hoje nós observamos cerca de 30% de sobrepeso nas escolas. Este problema já dificulta de cara a atividade física. E o caminho para a instalação precoce e agressiva destas doenças está aberto. É urgente a instalação de políticas de saúde pública que orientem os pais a cuidarem de seus filhos em relação à educação alimentar e atividade física. Cabe aqui a intervenção obrigatória de médicos já nas escolas, pois mais da metade das pessoas acometidas, nem se dão conta de que estão com sobrepeso, e que isto caracteriza doença que pode gerar outras doenças.
No livro, o Sr. aborda a reeducação alimentar como essencial. Pode explicar?
A reeducação alimentar atua diretamente em quatro dos sete fatores de risco. Primeiro, ajuda a manter o peso adequado (contra a obesidade); segundo, pode ajudar a controlar o colesterol; terceiro, é essencial no tratamento da diabetes; e finalmente, pode auxiliar no tratamento da pressão alta.
E os exercícios físicos?
Os exercícios físicos são importantíssimos, porque também atuam diretamente em três fatores de risco: (1) ajudam a manter o peso adequado (sem obesidade); (2) são essenciais no tratamento da diabetes, pois reduzem a resistência à insulina; (3) podem auxiliar no tratamento da pressão alta. Mais ainda, os exercícios físicos praticados desde a infância, podem promover um aumento discreto do calibre das artérias do coração, que pode evitar ou adiar o perigo da obstrução se tornar significativa.
E se não for por nenhum outro motivo, é para poder comer sem culpa. Afinal, se você se exercitou forte, e desse modo participou da “caçada”, tem direito ao prêmio.
Qual o futuro dessa geração de crianças obesas? Qual sua indicação aos pais?
Infelizmente elas vão representar um grande custo social e econômico à sociedade sobre todos os aspectos. Elas terão uma chance maior de contrair as doenças que constituem os fatores de risco que levam ao infarto. Como estas doenças podem ocorrer mais precocemente, estas crianças têm maior probabilidade de morbidade (perda de qualidade de vida) e mortalidade quando ainda adultos jovens.
Pais, vocês são responsáveis para incutir os hábitos que serão tão preciosos aos seus entes queridos. E o exemplo é infinitamente mais eficaz que o discurso. A família toda precisa de orientação e de comportamento alimentar adequado.
Quais as dicas para os adolescentes que comem muita comida industrializada, mas praticam esportes? Um hábito saudável neutraliza o outro?
Normalmente os adolescentes que praticam muito esporte, devoram as refeições. Mas quem está comendo excesso de comida industrializada provavelmente já não está fazendo tanto esporte quanto deveria. Alerta amarelo!
E o tabagismo? O Ministério da Saúde anunciou que, em 2012, gastou R$ 12 milhões no tratamento a fumantes. Conscientização vai evitar que o jovem comece a fumar?
O tabagismo é um problema complicado. O adolescente tende à rebeldia e o tabagismo é uma evidente transgressão à lógica da saúde. Um ambiente familiar acolhedor pode ajudar a evitar o início. Orientação nas escolas também é muito importante.
Plataformas de comunicação, como esse livro de auto-ajuda de qualidade de vida, podem influenciar a melhorar os cuidados com o coração e com a saúde em geral?
A maior parte do problema de aderência a qualquer tratamento é entender os motivos deste tratamento. Este livro se propõe a explicar: quais são os fatores de risco? Como eles levam ao desenvolvimento da doença; que os esforços têm que começar desde sempre de forma continuada? Quais as opções de tratamento, tudo numa linguagem simples e direta. Com esta compreensão do problema, o paciente passará a ter os instrumentos para uma consulta médica com uma rica troca de informações e escolher o seu tratamento com consciência.
O Sr. acredita que só medicamentos podem evitar as doenças cardíacas ou a mudança de atitude do paciente é essencial?
Não, com certeza! Os medicamentos são cada vez mais eficientes, mas é apenas parte do tratamento. Uma atitude global centrada na saúde é o gol a ser alcançado. Vale lembrar que sem esta atitude, até tomar os remédios pode ser esquecido.
Qual seu conselho como médico e como pai para ter um coração saudável?
Evidentemente ler o livro “Querido Coração”. Lá você verá que um hábito alimentar adequado, atividade física regular e assistência médica preventiva e ou terapêutica com compreensão e adesão às recomendações são o caminho para um coração saudável. Este caminho requer esforço constante.
Dr. Roberto Rocha e Silva é membro da Unidade Cirúrgica do Instituto do Coração do Hospital
das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. É especialista em cirurgia de revascularização do miocárdio sem circulação extracorpórea (CEC) e chefia a equipe de cirurgia cardiovascular que atua no Hospital Pitangueiras do Grupo SOBAM e no Hospital Paulo Sacramento do Grupo Intermédica. É a terceira equipe brasileira credenciada para realizar Cirurgias Minimamente
Invasivas (no inglês, MIS) com o uso de Cateter Aórtico (EndoClamp®).
O livro “Querido Coração” pode ser comprado em todo pais em livrarias e nos sites das redes como Cultura e Saraiva.

Ficha Técnica – “ Querido Coração”
Autor: Roberto Rocha e Silva
Editora – Metalivros
Preço de capa: R$ 19,90
Vera Moreira/ Assessora de Imprensa/ (11) 3253-0586/ 9 99731474
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