Como será o escritório de advocacia no pós-crise? Quem responde essa pergunta com argumentos modernos é o consultor José Paulo Graciotti, membro da ILTA– International Legal Technology Association, especialista em gestão do conhecimento, com 27 anos de experiência em estruturação de bancas de advogados.
Antes de começar a discutir a crise, recessão ou o mercado, cabe uma reflexão sobre o histórico recente dos escritórios de advocacia corporativos e seu modelo de organização e gestão. O atual modelo de gestão está esgotado?
JPG – Faz quase 30 anos que faço e me dedico ao estudo da gestão de escritórios de advocacia e posso afirmar, com certeza, que o modus operandi dos chamados escritórios corporativos “fullservice” é o mesmo desde então. Esses escritórios foram criados no Brasil à imagem e semelhança do modelo americano dos lá chamados de “big law”, que tem uma forma de comportamento praticamente padrão, ou seja, mantinham e atualizavam anualmente suas tabelas de taxas horárias por tipo de advogado (basicamente tempo de formado); faziam suas propostas baseadas em estimativas de horas e repassavam aos clientes todas despesas incorridas para execuç&atil de;o dos trabalhos e pouco se preocupavam com produtividade, eficiência ou eficácia.
Após o pico da crise nos Estados Unidos, os grandes escritórios de advocacia, denominada Firmas, encolheram e mudaram o modelo de negócios. Como será o escritório de sucesso do futuro?
JPG – Nesta discussão quero provocar a reflexão sobre a aceleração das mudanças em todos os campos da vida cotidiana e rupturas na nossa vida profissional causadas por toda a evolução tecnológica que o mundo está vivenciando, cujos efeitos já estamos sentindo e serão mais acentuados num futuro muito próximo. O impacto sobre pessoas e profissionais obriga a uma profunda e radical adaptação a essa nova realidade e todas as pessoas e empresas estão inseridos nesse contexto. Os Escritórios de Advocacia não são a exceção.
Qual o primeiro sinal que a mudança chegou?
JPG – A Comunicação esférica (tradução livre para “spherical communication”). O termo expressa muito bem a nossa realidade atual de nos comunicarmos com o mundo de buscar informações. As ferramentas atuais existentes na Internet permitem conectar com tudo e com todos numa fração de segundo (e ao mesmo tempo) e já nos acostumamos a isso. E o mais incrível é que não conseguimos mais imaginar como viver sem elas! Essa tendência obrigará os prestadores de serviços a criarem novas formas de exposição e principalmente novas formas de vendas e de prestação de serviços.
Investir em tecnologia é essencial para melhorar a produtividade?
JPG – A extração eficaz de informações relevantes para o negócio nas grandes bases de dados (internas e externas) com sistemas inteligentes de busca (searchengines) e ultimamente sistemas de Inteligência artificial, robotização e Inteligência Cognitiva (Watson – IBM) representarão no futuro bem próximo a diferença entre estar ou não estar no mercado!
A gestão do conhecimento com a utilização eficaz e pragmática de suas informações (documental, cadastral, financeira) possibilita um aumento brutal na produtividade, gestão operacional e estratégica e é a chave do presente-futuro principalmente para as empresas que vendem serviços intelectuais.
No Brasil, a onda é investir em sistemas em nuvem e documentação totalmente digital.
JPG – Essa tendência, que já está em andamento, permite que as empresas se desvinculem das necessidades físicas (backups, redundâncias, ar-condicionado especial, vigilância, segurança), de staff especializado (cada vez mais difícil e custoso) e de grandes volumes de investimentos para terem uma plataforma robusta e atual para seus sistemas. Atualmente, no modelo tradicional, em vários casos a estrutura física de TI da empresa é por si só uma âncora que impede ou dificulta muito uma alteração de endereço.
Com essa desvinculação física, os escritórios poderão se concentrar mais no seu “core business” e ter apoio de profissionais mais especializados na manutenção de seus equipamentos, no desenvolvimento de seus sistemas e na segurança física e digital de suas informações. Poderão também ocupar espaços menores, sem necessidade de espaços (internos ou externos) para arquivamento físico de toneladas de papel.
Mas isso não pode gerar insegurança?
JPG – Falando especificamente sobre o item segurança, a estrutura oferecida pelos atuais data-centers e provedores de serviços na nuvem é infinitamente maior do que a falsa segurança existente nas salas, gavetas dos escritórios e seus servidores internos.
As melhorias técnicas nas comunicações estão crescendo de maneira assustadora e com custos cada vez mais competitivos. Quem poderia prever que a internet2 tem velocidade teórica de 10Gbps (isto que dizer que um DVD com capacidade de 4,7Gb pode ser transferido em 3,5 segundos!); o protocolo de endereços “IPv6” vai permitir 79 octilhões de vezes à atual capacidade de endereção do protocolo IPv4; e por último, a tecnologia 5G, prevista para desembarcar no Brasil em 2018, tem velocidade 10 vezes a da 4G, apenas para citar três exemplos. É importante lembrar que essas tecnologias já existem não se tratando e futurologia ou ficção cient ífica.
E como os sócios de escritórios de advocacia devem aprender com a retomada do crescimento, como aconteceu nos Estados Unidos?
JPG – Enxergo para o futuro, não muito distante, os “escritórios totalmente integrados à vida digital (com tecnologia de ponta e sistemas de inteligência cognitiva e 100% interativos com seus clientes); menores que os atuais “big-law”;com menos clientes e melhor atendimento; com estruturas físicas espartanas (locais menos nobres que os atuais) e salas de telepresença; com espaços de uso partilhado; e muito mais eficientes que os atuais”
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