*Fernando Vaisman
O Brasil é o líder mundial em produção de energia elétrica advinda de usinas hidrelétricas. Elas representam mais da metade da matriz energética brasileira, graças à nossa imensa malha fluvial. Porém, ocupa apenas a 9ª posição no ranking mundial de geração de energia elétrica por fontes renováveis.
É preciso mudar isso. Ocorre que o sistema energético brasileiro encontra-se defasado. E o problema só não veio à tona de forma mais aguda até o presente momento, graças à recessão vivida nos últimos anos, com a retração da economia e, consequentemente, da demanda por energia. Não é necessário ser nenhum expert para entender que a retomada do crescimento econômico, por certo, deflagrará o problema do déficit energético.
Construir novas usinas hidrelétricas não parece ser a melhor opção, diante da escassez de recursos financeiros por parte do Estado. O longo prazo necessário para colocar uma usina hidrelétrica em operação, seja pela complexidade da obra civil envolvida, seja pelos percalços de ordem ambiental transformam o processo numa via crucis não compatível com a rápida necessidade de incrementar o sistema. Apenas como exemplo, lembremos que a Usina de Belo Monte custou aos cofres públicos mais de R$ 30 bilhões e sua construção levou quase oito anos.
Mas há uma luz no fim do túnel. Com a evolução da legislação regulatória, cresce a oportunidade de investimento privado em geração de energia por outras fontes renováveis. É aí que destaco a energia proveniente de usinas solares.
Desde 2012, com o advento da Resolução Normativa (REN) 482 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), uma pequena usina solar de, no máximo, até 5MW/H, pode ser instalada em determinado local e injetar a energia na rede pública (que acaba funcionando como uma espécie de bateria). A energia, então, pode ser consumida em outra localidade, desde que atendida pela mesma concessionária.
O relativo baixo preço de construção (uma usina solar nestes moldes custa, em média, R$ 20 milhões para ser construída), aliado ao seu curto prazo (por volta de seis meses, desde a concepção ao início de geração) fazem com que o risco de construção seja mitigado, incentivando sua proliferação.
Soma-se a isso a imensidão do território brasileiro. É importante lembrar que o local ideal para instalar uma usina solar apresenta-se nas áreas inférteis, como o semiárido nordestino e o noroeste de MG, o que faz com que o preço pelo uso das terras não se mostre um problema. O potencial de exploração dessa forma de geração é imenso. Para ter uma ideia, o território brasileiro – apenas 12% menor do que o chinês – gera 1,2% da energia solar produzida por lá. Aqui, em 2016, apenas 0,02% da energia vinha de fontes solares.
Não há dúvida que há vantagens para o meio ambiente e para os consumidores. Porém tem-se percebido que construir usinas fotovoltaicas (solares) tornou-se um belo investimento, com taxas de retorno extremamente atrativas. Isso porque, normalmente, a energia produzida por usinas solares se mostra mais barata do que aquela comprada diretamente das distribuidoras.
Diante desse cenário, projetos vêm sendo desenvolvidos focando em clientes que apresentem alto grau de consumo energético. O cliente ideal é aquele que apresenta diversas unidades de negócio independentes que se enquadram na baixa tensão (B3), como agências bancárias, lojas de grandes redes de varejo e antenas de transmissão de telecoms. Empresas enquadradas na categoria de alta-tensão negociam tarifas reduzidas diretamente com as distribuidoras e, portanto, são incompatíveis com esses projetos.
Family offices, bancos de investimentos e fundos de investimentos voltaram seus olhos para esse promissor mercado e vêm financiando cada vez mais esses projetos, observando altíssimos retornos que podem ir de 15% a.a. a 30% a.a. Na prática, está havendo uma verdadeira corrida em busca desses investimentos, já que o mercado entendeu que as melhores oportunidades retornarão nos próximos cinco anos, no máximo.
Primeiramente, como em todos os setores, a tendência é que haja uma concentração de mercado em torno dos players mais relevantes. Ocorreu com o setor sucroalcooleiro, com a Cosan, Louis Dreyfuss, e EDF. Aconteceu com o segmento eólico, com a chinesa CTG, com a CPFL Renováveis e com a Renova. Não será diferente no setor fotovoltaico.
Além disso, a proliferação das usinas tende a tornar os contratos de tomada de energia mais competitivos, com tarifas e prazos menores, reduzindo a Taxa Interna de Retorno (TIR) dos projetos. Players com track record, ou seja, com histórico de projetos apresentando performance satisfatória, e ganho de escala, com certeza, terão vantagens em relação aos demais. Além disso, os primeiros projetos serão construídos nas melhores áreas, com maior radiação solar e melhor infraestrutura de transmissão.
Por fim, a regulação por parte do governo trará algum tipo de compensação às distribuidoras que estão perdendo clientes. Nesse sentido, a REN 482 da Aneel está sob exame e deve ser modificada para trazer alternativas para tanto, encarecendo um pouco a energia gerada por fonte solar. A conclusão que se chega é que o mercado continuará crescendo, mostrando-se atraente por muito tempo, mas aqueles que se posicionarem mais rapidamente, certamente, levarão uma enorme vantagem em relação aos demais.
*Fernando Vaisman, sócio-diretor da Elyk Energy, responsável pela área de relações com investidores.
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