SÃO PAULO – A cadeia de orgânicos do Brasil aposta no mercado interno para crescer. O aumento na procura por produtos naturais nas gôndolas dos supermercados do País, o processo de regulamentação nacional e a valorização do real ante a moeda norte-americana favorecem a comercialização doméstica. Para Ming Liu, coordenador do projeto Organics Brasil, também com a possibilidade de absorção de produtos orgânicos durante a realização da Copa de 2014, as cidades sede dos jogos devem avançar entre 5% e 10% na produção e comercialização do produto. A demanda brasileira por orgânicos, de acordo com Liu, gira em torno de R$ 350 milhões em 2009, ante R$ 250 milhões no ano anterior.
Estudo da Organics Brasil aponta de 2008 para cá redução entre 30% e 40% na área nacional de orgânico certificado voltada para o mercado internacional, em parte devido ao câmbio que desfavorece as exportações.
Na outra ponta, a regulamentação dos produtos no País, prevista para estar pronta em dezembro, também deve contribuir para alavancar a produção e as vendas de orgânicos no mercado interno. “O mercado doméstico vai se fortalecer e criar uma base sólida. A tendência com a previsão de expansão na demanda é que a oferta também avance”, afirma o coordenador Liu.
Já as exportações, que seguiam um viés altista, com a instabilidade cambial recuaram em 2010.
Dados do Projeto Organics mostram que o ritmo das exportações estava acelerado em anos anteriores. Os embarques de 2007 para 2008 deram um salto positivo de 176,19%, quando as empresas participantes do projeto faturaram US$ 21 milhões e US$ 58 respectivamente. Com a crise econômica mundial em 2008, as exportações caíram, embora em proporção menor, de 23,6% em 2009 se comparado ao ano anterior. O faturamento em 2009 foi de US$ 44,3 milhões. Em 2010, no primeiro semestre, quando são realizadas as principais feiras internacionais, as vendas somaram US$ 12 milhões.
O mercado aponta que o setor cresce anualmente no Brasil 20%.
Tanto que a King of Palms, depois de investir R$ 500 mil em pesquisas, certificação, embalagem e matéria-prima, disponibilizou no mercado interno castanha do Pará orgânica, certificada pelo Ecocert Brasil e USDA Organic, com rastreabilidade de todo o processo produtivo. A King espera em 2011 aumentar o faturamento em 50%.
Para o chefe da Divisão de Mecanismos de Garantia da Qualidade Orgânica da Coordenação de Agroecologia do Ministério da Agricultura, Roberto Guimarães Habib Mattar, a certificação, que entra em vigor no próximo ano, quando o segmento será alimentado por dados oficiais, permitirá ao governo federal elaborar o Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos, contendo informações sobre a quantidade de produtores de orgânicos, total de hectares plantados e hectares plantados por cultura.
O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) que paga 30% a mais na aquisição de produtos orgânicos, de acordo com Mattar é mais um incentivo à produção brasileira.
Segundo Ming Liu, outras ações para o crescimento do setor estão em andamento, como o Programa Alimento Seguro (PAS), subsidiado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), e o programa para capacitação das indústrias de orgânicos da Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com a Federação da Indústria do Paraná.
“O centro de excelência de produtos industrializados orgânicos em dez capitais é co-patrocinado por comunidades europeias”, comenta o coordenador.
Haiti
Como parte das ações de ajuda humanitária oferecida pelo governo federal para a reconstrução do país da América Central, devastado por um terremoto em janeiro deste ano, técnicas de produção orgânica de leite empregadas no Brasil serão repassadas ao Haiti. O primeiro passo foi a oferta de US$ 5,5 milhões para a implantação do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA/Leite) no Haiti.
A cadeia de orgânicos do Brasil, que tradicionalmente tem força no exterior, aposta agora no mercado interno para crescer. O aumento da procura por produtos naturais nos supermercados do País, o processo de regulamentação e a valorização do real frente ao dólar são os responsáveis pela mudança. Para Ming Liu, coordenador do projeto Organics Brasil, a prioridade ao mercado interno se dá também pelo aumento da demanda por produtos orgânicos que deve acontecer durante a Copa de 2014. Nas cidades-sede, a venda desses produtos deve crescer entre 5% e 10%.
FONTE: DCI (10/11/2010)
Comments