* Roberto Rocha e Silva
Na infância estava sempre lá e na adolescência chegava a perturbar. Um dia você se dá conta de seu apreço por quem antes só olhava de rabicho. Passa a chamar carinhosamente de Coração e você se vê completamente envolvido. Vem o tempo, as preocupações, eventualmente as crianças…
Coração sempre ao seu lado e você começa a relaxar. Alimentação desregrada. Até com o peso passa a descuidar.
Coração, já nem sempre ao seu lado, lhe chama para caminhar, mas você prefere uma parada no bar.
O cigarro passa a estar.
Numa última tentativa, Coração manda pequenos recados, sempre discretos, que a relação não vai bem. Infelizmente, passam desapercebidos; quando muito, desconfiança!
Um dia, ao entrar em casa e olhar para o sofá, você sente a punhalada no peito. Pura e insuportável traição. Não pode acreditar. A visão fica turva, as mãos começam a tremer. O suor frio, resultado de dor lancinante, escorre pelo rosto.
Se lança sobre o sofá.
Não, Coração não está e nem poderia estar te traindo com outro em seu sofá. Por sorte, após dez minutos, a dor começa a ceder.
Não, não foi um infarto, não desta vez. Coração resistiu.
Você começa a se informar e conclui que ter medo do infarto é como temer e se livrar do sofá, onde pegou o cônjuge em traição.
O infarto é a manifestação final de um longo processo de descuido com o Querido Coração, onde podem estar todos lá: alimentação inadequada, sobrepeso, sedentarismo, tabagismo, dislipidemia e diabetes.
A doença a ser temida é a lenta e progressiva obstrução das artérias que nutrem o Coração. O evento súbito e traiçoeiro do infarto pode ser evitado. Requer cuidados desde sempre.
Procure seu médico.
*Roberto Rocha e Silva é cirurgião cardiovascular do INCOR e autor do livro “Querido Coração”
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